"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

domingo, junio 05, 2016

três pontos
sob um leve desespero...

estou com sintomas de saudade, estou pensando em você...
toda vez que tento me refazer inteiro, rejuntar os cacos do meu inconsciente despedaçado pelas vicissitudes e tormentas que me cercam. a vida torna a me destroçar como uma pedra na vidraça, deixando mais e mais estilhaços pelo caminho. toda vez que penso me recompor das perdas passadas, dos desfalques em minha integridade, dos desejos frustrados, dos cinismos covardes, ela volta a me empurrar pelos mesmos erros jogados na minha cara como se quisesse me lembrar do quanto sou incapaz de os evitar cometer. de novo e de novo. toda vez que a desilusão me atormenta, o desespero me toma de assalto e se encaixa confortável em meu peito, me distraindo da solidão e me permitindo obter um traço de paz de espírito, ela me joga um balde quente de esperança renovada que destrói minhas certezas, desmonta meus sentidos, quebra meu silêncio e me joga de volta no abismo das promessas de felicidade que sempre vêm e se vão. pendulando sobre meu peito e me trazendo a mesma angustiante vertigem apaixonada. pela vida, pelo amor, pelo desejo de ser inteiro, pela saudade de algo que nunca vivi. a aflição com um futuro incerto de prazeres virtuosos, como raros hão de o ser, flutua condensando meu coração em um peso tonelar, que com tanto impulso, se põe a girar e girar. imparável, insistente, atormentado. escorrego na velha espiral que me destrona de toda a racionalidade e me joga na dor inflexível do girar de um parafuso sem fim. que mais e mais me aperta a alma no interior do meu peito condensado e cravejado de lágrimas secas e amargas. lâminas que perfuram minha dor com venenos atordoantes. quando pensei estar me curando de tantos planos mau cumpridos, a vida me traz você. de onde menos poderia esperar, você me atinge como uma bala perdida, clamando por afeto, crivando sua marca em minha pele e inflando meus sonhos enquanto se encaixa neles tão perfeitamente quanto se encaixa seu corpo em mim. sua alma, sua mente, preenchendo as lacunas de meu ser atormentado pela sangria desvairada de um amor que já não mais pensava ainda sobrar em mim. desatino de desejo por sua mente tão complexa, por sua alma tão docemente apertada, me pedindo paixão. clamando ser parte da minha. Numa conexão mental que vai além do que se pode imaginar o desejo mundano comum. Incapaz de compreender a beleza inebriante de uma paixão que arde na mente enquanto ressona pela alma e reverbera pelo corpo causando pânico e terror. medo de perder o que sequer se tem. duas almas que se tocam como uma só fosse. se mesclando, misturando, confundindo. sendo você tão eu. e eu, aqui, já tão seu. como punir um amor tão puro que se fez carne? como não temer uma paixão que tanto arde? como não viver um amor que tanta vida faz pulsar em minh'alma já tão tarde?

miércoles, junio 01, 2016

divagar impreciso
eu, o tempo e o vento...

não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas
nunca fui bom em esperar. minha relação conturbada com o tempo, minha ansiedade que me desconecta do presente e me invade com um jorrar torrencial de adrenalina me impede de simplesmente ser. ser enquanto o tempo é. pois costumeiramente tenho dom de me transportar do agora para o antes ou, mais frequentemente, me perco nos labirintos de um depois infinito de possibilidades. me agarro ao que houver de pior. busco no fundo de minh’alma uma fuga para a obsessiva vontade de controlar o tempo, mas toda vez que duelo com ele, ele me derruba. me avisando que, inexoravelmente, irá sempre ser o senhor do meu destino. e que não há poder algum sobre a terra capaz de destroná-lo e me dar qualquer lampejo de ordem. sou puro caos, desfeito entre os pedaços do tempo que ainda não é. apavorado com um mundo que ainda não é. vagando entre estradas que se cruzam e, cada vez mais me desconectam da realidade que construo com minhas escolhas. as quais, invariavelmente, me conduzem aos mesmos erros que repito insistentemente na vã esperança de obter diferente resultado para ações que me tomam. que me tornam sem controle algum. mas quando o solfejar do vento me devasta com o seu perfume, me ancora no que é. no que somos. juntos, embora separados e desejosos de nós mesmos. vejo-o lamber os seus cabelos e sonho com o dia em que meus dedos deslizam por entre eles banido de culpas e livre de tormentos. sonho. e meus sonhos me conduzem de volta ao vazio do tempo que não é. sofrer caoticamente pelas possibilidades de ter e não ter. de poder e não poder. pela pura invariável incerteza. a incerteza me move, mas me corrói por dentro. as certezas me paralisam, mas me trazem paz. uma que me parece levar você pra longe. definitivamente. então escolho o caos, a dor, a solidão do não saber, o desespero do não poder conter o esperar em mim, a angustia de uma esperança perdida em um tempo que não me é. uma dor dilacerante por esperar ter o que me parece proibido mesmo que me oferecido de bom grado. um descompasso... atravessado pela frustrante verdade de que não mais tenho controle de mim, projetado que estou em um tempo em que seria feliz. simplesmente não o sou... sem você por aqui.