"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

jueves, agosto 31, 2006

da série
Luís
parte I - uma idéia na cabeça...

“sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só...”
Ele nunca quis ser representante de nada. Nunca quis se meter em briga que, julgasse, não fosse sua. Mas eram. Tão suas quanto de todos os outros que dela compartilhavam consigo e até mesmo daqueles que, como ele antes, a ignoravam. Mas eram tempos difíceis e não se condenava quem abdicava da batalha pela paz da vida alheia ao mundo em volta. Ele ouviu o clamor de uma idéia que lhe parecia justa. Mais do que justa, lhe parecia necessária. E dali em diante, ele sonhou. Sonhou com dignidade e justiça para o seu povo. Sonhou com um mundo novo que deveria surgir, engolindo as velhas mazelas que insistiam em perdurar-se e decidiu travar a batalha pela realização do seu sonho. Não porque era um sonho seu apenas, mas porque era o sonho de tantos e anseio de muitos mais. E todos juntos sonharam, lutaram, discutiram, teorizaram sobre aquilo que, na verdade, sequer deveria ser discutido, simplesmente por ser nada menos que óbvio – justiça, liberdade e igualdade entre todos os homens. Ele quis libertar um povo, derrubar um sistema e reerguer uma nação. E eles todos sonharam com isso, juntos. Por muito tempo. Mas como não basta apenas sonhar, eles se propuseram a pôr em prática uma luta que lhes tomaria toda uma vida. Sem esmorecer, ergueram-se contra todas as evidências de que aquilo não seria possível e se puseram a caminhar, juntos. Levando à idéia adiante, porque sabiam: nenhum homem pode ser maior do que a idéia que representa. E ela deveria fortalecê-los até a vitória ou até o fim. Ele viu um povo que minguava à margem de uma minoria opressora e se pôs a defendê-lo. Viu um povo que sentia fome, dor e medo e escolheu seguir o impulso dos ideais que tinham por premissa um mundo mais justo e, por que não dizer?, melhor. Eles não sabiam quão duro e penoso seria o caminho que seguiriam dali por diante, mas tomaram o rumo porque, sem sombra de dúvida, era aquilo em que acreditavam. E ele, que nunca quis ser mais do que um homem, nunca quis ter em mãos poder algum, agora abraçava e levava adiante aquela idéia. Decidiu que queria representá-la e fazê-la crescer e reproduzir-se. Mal sabia que se tornaria um símbolo e que um dia ainda levaria aquela idéia, sua bandeira e todo aquele povo, ao topo, carregando-os até a presidência da república do seu país.

viernes, agosto 04, 2006

divagar impreciso
Caleidoscópio

ornamentando a sala tal qual uma esfinge, mantenho-me alheio ao rugir do tempo e me fecho em casulo como se buscasse transpor barreiras que me construo por dentro. como se pudesse escapar das perguntas, acusações e cobranças. das pessoas que me param na rua pedindo explicações para o girar do planeta e o nascer do sol. obliterado da existência, trancado numa bolha de vidro, oscilo entre as horas – finjo que trabalho, me camuflo entre as paredes e ninguém me vê; oscilo entre os dias – finjo que aprendo, me calo e ninguém me ouve gritar; oscilo entre as noites – finjo que durmo, me escondo. pensando, buscando, tentando, digerindo, esperando... espero, desespero, grito, choro, entorpeço, adormeço e acordo para continuar esperandoesperandoesperando... pelos outros, pelas coisas, pelas horas, pelos dias, pelo dia. simulo que entendo e desaprendo. desconstruo meus eus. e as certezas. de conflitos em mesas de bar a debates telefônicos aquecidos a vela. desfaço a confiança das pessoas na clareza de entender que eu não sou apenas mais um inseto que se debate a frente de uma janela de vidro que se mantém fechada. prendendo meus apelos e aprisionando essa esperança de um futuro livre. pseudo-liberto. entre as madrugadas compreendo que cada liberdade que se almeja, lhe custa outra que se perde. que cada vida e liberdade que se escolhe viver implica também na escolha de uma prisão. e disfarço não perceber o quanto sou cada vez menos dono dos meus dias e cada vez mais escravo das minhas horas. tanto mais quanto busco o controle de mim mesmo, mais me afogo e decepciono. me debato e me percebo prisioneiro de uma vida que pára estagnada, estática, enquanto o tempo corre. como uma ampulheta entupida em que a areia não escorre (a não ser por entre meus dedos) enquanto os ponteiros se deslizam ao sabor do tempo. o mundo gira lá fora, se move, e as luzes piscam ininterruptamente frente às minhas córneas. eu apenas paro, e espero...