"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

jueves, marzo 08, 2007

rapsódia romântica
Ressonância

Eu me segurei até onde pude. Mas você deixou uma brecha e me deu todos os meios de percorrer o caminho até meu destino. Na sua insegurança você trancou as portas, mas deixou as janelas entreabertas para que eu encontrasse a passagem. Atravessei os umbrais cautelosamente, buscando controlar os movimentos espúrios e tentando não transparecer o quanto estava apavorado. Aquele frio na boca do estomago e aquela sensação de instabilidade nas pernas denunciando que eu recaía no mal da adolescência. Era eu ali, do alto de minha pseudo-experiência de tão poucos anos de vida, caindo de novo nas armadilhas que já conhecia tão bem, desde o tempo em que, ainda imberbe, me aliciavam a perder a sobriedade e me entregar, mais que por inteiro, à sensação de ardor que dilacera mais do que nunca quando sua força é amplificada pela juventude, capacidade pífia de suportar as tensões, as dores e os prazeres. A consciência inexata dos atos e perda progressiva da percepção de realidade são efeitos sintomáticos. É a serenidade diluindo-se na adrenalina que inunda os vasos e expulsa o sangue com força e ferocidade. E faz as artérias se alargarem. Faz os sentidos se perderem quando tudo o que se vê são outros olhos, tudo o que se toca é outro corpo, tudo o que se respira é outro feromônio, tudo o que se degusta é outra língua e tudo o que se ouve é o compasso acelerado de musica ligeira de dois corações bombeando para fora da mente a lucidez em uníssono. Entrando em ressonância e se perdendo de todo e qualquer controle. Levando a sua freqüência a se propagar por entre os membros que vibram e tremem e ressonam com o bombear dos desejos. Amplificando, se amplificando, sendo amplificado, explodindo, instável. Sendo expelidas na forma de energia pelas forças ocultas de magnetismo e gravitação entre corpos que se atraem e entre almas que se tocam... num beijo.