"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

lunes, julio 31, 2006

três pontos
Riviera Francesa

Eu estava preso. Preso à magia daqueles intantes. Preso às delícias dos teus encantos de mulher, fada e feiticeira de meu deleite. Inebriado pelo perfume que exalava de tua pele e escravo de teus ardentes desejos. De carne, mente, cama e espírito. Era teu servo e bebia de teu prazer e suor adocicado enquanto minha língua devorava a ti, desde a pélvis até o pescoço. Enquanto aplacava tua sede e teu calor, me nutria dos líquidos que teu corpo me doava de bom grado e queimava em teu tesão. Labareda que incendiava meus órgãos e ainda hoje me faz arder. Com a lembrança febril de um gozo que explodia teu e reverberava por cada fibra do meu ser. E pela areia da orla, que se mesclava à água que fervia em nossa pele. Tua pele, tão doce e tão minha quanto era este corpo meu que te invadia, te preenchia, te pertencia e te sentia. Tão parte de mim quanto eu era parte tua. Acoitado pelos teus beijos e prisioneiro de tuas ancas. Aninhado em teus lindos seios e protegido de teu abraço morno. Aconchegado em teu calor que, então, me pertencia e me purificava com o ebulir de nosso sangue que se era único. Indiferentes ao inverno que nos cercava, combustível e comburente da labareda, incandescentes que nos somos, juntos, ainda mais quentes.

miércoles, julio 26, 2006

três pontos
Provocações...

E lá vem você outra vez com a sua conversa mole de sempre. Como se achasse que vai mesmo me convencer de que tudo não é exatamente igual ao que sempre foi. Como se realmente se importasse com o que vai ser de mim amanhã, depois que você for embora pra casa. Como se não fosse você a pensar sempre tudo, sempre mais, sempre demais, sempre mais do que é preciso. Às vezes eu prefiro aquela velha pose de mulher audaz, independente e auto-suficiente que me visitava tarde da noite com um xaveco meia-boca pra me levar pra cama, sair sorrateira ao raiar do sol e me ligar no dia seguinte com a cara mais besta de quem não viu nem sabe. Porque essa candura santa não lhe cai tão bem quando a gente já sabe no que tudo sempre vai dar. E esse teu doce já amargou e não tem mais graça desde que, ácido, deixou de ser virgem anos atrás. Você pode convencer o mundo e a lua de que essa conversa de “amor” lhe desagrada. De que meus beijos sem compromisso lhe bastam ao corpo tanto quanto à mente. Particularmente, nunca beijei uma mulher que não quisesse comer. A gente sabe... E na verdade você não precisa de trotes. Axiomas à parte, já passamos dessa fase. Quando quiser aparecer não me ligue mais. Só toque a cigarra e traga o vinho de sempre.

martes, julio 18, 2006

nos becos de gotham
the man of tomorrow

Não é tão simples quanto eu faço parecer. Só se fosse capaz de sentir cada uma das coisas que eu sinto (da forma como eu sinto) é que você poderia entender o que cada uma delas significa. Você sabe: ver a vida com os meus olhos. Eu mesmo não conseguiria ver o mundo com os seus. Sua visão soturna e amargurada sobre as coisas e as pessoas. Mas acredite, você também não gostaria de vê-lo com os meus. Ainda hoje eu me assusto com os rostos em carne viva e os esqueletos com que às vezes me deparo caminhando na rua. Chega um ponto em que você se distrai e os olhos se manifestam de formas diferentes. Mas já foi bem pior. No começo era bem pior. Eu chamava de ‘raios-x’. É, eu sei... conceitualmente é uma denominação equivocada, mas na época me parecia uma boa idéia. Eu era pré-adolescente, dá um desconto, vai! Levei alguns anos até me acostumar e aprender a controlar essa coisa. E entender que era diferente e tinha que me aceitar assim mesmo também. Ao longo desse período isso me rendeu algumas situações constrangedoras. Às vezes eu acho que deveria fazer como você e viver enfurnado numa caverna (sem ofensas, ok!?). Isolado do mundo exterior. Esse mundo que não me pertence. Na verdade um mundo ao qual eu não pertenço. Imagine entrar na sala de aula e dar de cara com a professora completamente nua. Ou a sua turma inteira. É... é mais ou menos por aí. Tipo, o que você pensaria se uma amiga sua entra no seu apartamento totalmente pelada? Tá, eu sei o que você pensaria, eu sempre penso a mesma coisa. Mas daí você cerra os olhos e percebe que as roupas estão lá, ou só se dá conta disso quando tenta tocá-la e sente que há algo sobre a pele que está vendo. É... absurdamente frustrante, eu diria. Sobretudo se você é adolescente, ainda mais virgem. Ah, não me olhe com essa cara! Se estivesse no meu lugar você também teria medo disso. Imagine só: de repente eu me empolgo e rasgo a garota ao meio. Literalmente. E acredite, eu sei que sou capaz disso e morro de medo de que um dia aconteça. Sou capaz de matar alguém apenas de me descuidar com um sopro ou um abraço, quem dirá com algo assim. Quantas mulheres você acha que gostariam de ir pra cama com um alien se soubessem disso? Claro, tem a Lois. Eu sei que ela gostaria. Sempre soube quando uma garota gostava de mim. Não que eu tenha um dom especial com as mulheres ou algo assim. É que eu posso ouvir mesmo. E você sabe como são as garotas: elas sempre têm amigas. E não importa o quanto estejam falando longe ou baixo – eu sempre ouço. Ouço até mais do que gostaria na verdade. Você não tem noção do quanto foi complicado controlar isso. No começo achei que fosse enlouquecer. Parecia um esquizofrênico, e sob alguns aspectos eu até era mesmo. Podia ouvir uma torneira pingando lá na china, o que você acha disso? Claro que logo no começo não era tanto assim. Mas ouvir os meus pais transando todas as noites por mais silenciosos e mais distante que estivesse o quarto deles era altamente constrangedor, sério. E que tal seus amigos e vizinhos? Saber de tantos segredos e comentários impublicáveis? Cara, isso é foda! Desculpa, eu falei dos meus pais de novo. Não me esqueço do que aconteceu com os seus. Falando sério, se eu pudesse mudar isso, certamente seria algo que faria. Mas nem mesmo eu posso tudo. Eu já quis ter filhos, sabe? Mas já pensou no que poderia acontecer com um filho meu crescendo no ventre de uma mulher? Eu tenho náuseas de pensar no que seria da coitada quando ele começasse a chutar. Isso, claro, levando-se em conta que eu realmente pudesse fecundá-la. Pois é... sob muitos aspectos eu sei que estou realmente sozinho no universo, e viver assim, meio ‘alienado’ não tem sido nada fácil. Tem sido melhor à medida que tenho aprendido a controlar os diversos aspectos de minhas ‘habilidades’, mas ainda assim não foi fácil chegar até aqui. Nem sempre é tão legal quanto se imagina. Pelo menos até o dia em que eu saí do chão. Daí em diante tudo começou a mudar. Não sei se dá pra entender, mas a vida ganha novos contornos quando você enxerga lá do alto. Quando se aprende a voar.

miércoles, julio 12, 2006

três pontos
Frio, doce e suave

O branco do véu que esconde o sol, prende sua luz e seu calor
Muda a cara da cidade, muda a forma das pessoas, muda a vida dos lugares
Asfalto molhado, cheiro de terra, frio, doce frio...
Lar, doce lar... com pizza, um filme e vinho

Assim misturado mesmo
porque eu bebo vinho tinto barato doce e suave (e não tô nem aí!)

Por trás dos meus óculos escuros
Que insisto em usar mesmo perante este éter cinza que encobre a cidade
O mundo gira assim, em slow motion, arrastado e tranqüilo, frio, embaçado
Embriagado da chuva que molha as ruas e embala as vozes e violões

Mais vozes que violões
Porque eu toco na varanda da casa de praia. No cru e no popular

Enquanto as nuvens desabam sobre minha cabeça
Dessa água bebe minha mente, solo fértil, sedento e juvenil
Guardo minhas palavras, às vezes tão raras, para melhor aproveitá-las
Mas quando jorram em abundancia, as deixo transbordar de minha boca inflamada

Quão instável é o conceber das idéias
Por vezes suave como um beijo
Por vezes sofrível como um parto
Penoso, choroso e sublime

jueves, julio 06, 2006

três pontos
Firulas de uma manhã de inverno

chuva... tédio... bocejo... atitude.
vou para o escritório, ligo o PC, leio os e-mails, notícias, mais chuva.... tédio...
almoço. tédio... chuva, sono e mais tédio.
volta pra casa – portão, chave, escada, porta, banheiro, cama... tédio.
meu sono passa, as horas não...
telefone que não toca... chuva... tédio...
cadê o maldito celular?
penso em você. me dá náuseas...
penso em outra pessoa. telefone que nunca toca...
mais chuva, mais tédio, mais nada, nada, nada...

nunca fui muito bom em ser concreto.
natureza caótica. abstrata.

ligar a TV? hmmmm... não.
cama, lençol, travesseiro, sono que não volta, preguiça que não passa.
apatia...

cenário: quarto.
texto: ...
chuva, tédio e a porra do telefone que não toca (telefone idiota).
apatia.

nunca fui muito bom em ser concreto.
abstrato. eu e a minha apatia...

às vezes tudo que eu quero na vida é uma segunda-feira
mas só às vezes... (muito às vezes mesmo!)
ah... a apatia...

lunes, julio 03, 2006

na teia da aranha
Ronaldin e o gênio da frança

Apesar de tudo o que se diga, e de todas as críticas, ninguém em território nacional, nem mesmo eu, estava torcendo pela França no jogo do último sábado. O torcedor brasileiro é irracional e acredita sempre, mesmo contra todas as lógicas e problemas. Mas, justiça seja feita, saiu barato a derrota do time de Parreira que, mesmo com o auxílio providencial da arbitragem, não foi capaz de defender o título de campeão mundial. Ao contrário da França, essa sim, que entrou em campo como se ainda defendesse um título que já não mais era seu. Um a zero, fora o baile! Pena que a apatia do time (de) amarelo tende a criar culpas, desculpas e bodes-expiatórios, tirando o brilho daqueles que foram, realmente, melhores em campo. Num jogo em que fica clara a diferença entre um craque (aquele que consegue ser realmente surpreendente em seus melhores dias), que o Brasil tem muitos; e um gênio (aquele que faz o impensável, mesmo em seus dias ruins), que a França tem um: Zinedine ‘Zizou’ Zidane. Ou, como se referiu Pelé (o próprio. brasileiro e atleta do século XX), o “mágico” Zidane. Um dos jogadores mais injustiçados pela história do futebol brasileiro. Pois merecia, depois da Copa de 98, ser tão odiado pelos brasileiros quanto Paolo Rossi, mas não é. Por que a torcida preferiu distribuir a culpa entre Ronaldo, Zagallo, a Nike e etc. Mas os deuses da bola, caprichosos, lhe deram uma segunda chance. E tava na cara que o Brasil, do técnico que diz que “show é ganhar”, do jeito que vinha não ia longe. Não quando se deparasse com uma equipe de qualidade de verdade, ao contrário daquelas que o sorteio pôs em seu caminho fácil até às quartas. A França jogou bem e venceu. O Brasil ficou sem show e sem taça (que nos sirva de alguma forma como lição). E Zidane, se justiça for feita, receberá o privilégio de ser o novo alvo do ódio irracional que o brasileiro reserva apenas às grandes pedras nos seus sapatos, como Rossi, Maradona e até mesmo o efêmero Ghiggia. Então, assim como aconteceu por 24 anos entre 1970 e 1994, a vida continua. E acredite, será a mesma para todos nós, ainda com a derrota da Seleção. Assim como, aliás, também o seria mesmo no caso de sua vitória. E na Alemanha, a Copa continua. Agora sem o Brasil. Allez, les bleus!