"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

viernes, febrero 25, 2005

divagar impreciso
vinte e quatro meses

Quanto mais escasso fica o meu tempo, mais rápido passam os dias à minha frente. Rápidos como uma flecha. Secos como um golpe de navalha que vai me abrindo marcas por onde escorre o meu sangue ralo. E num piscar de olhos me vejo cercado por pesadelos de dores, de fracasso, de desamparo. Perdido entre as folhas do calendário que se amontoam ao chão. Entre as páginas de revistas relidas e jornais velhos amassados. Entre as chaves dos apartamentos já deixados. Entre as caixas das mudanças de endereço, de e-mails, de telefones, de amigos. Entre livros e gavetas repletas de papeis rabiscados. Entre as lembranças de uma brisa, de um gole, das ruas e lugares, de pessoas e das marcas que nunca me deixaram. Perdido entre mim e o mundo a minha volta, que parece girar em torno do meu eixo para manter-me sempre amarrado no mesmo lugar. Conto aqueles que já se foram, um a um, seguindo adiante em seu rumo e começo a busca desesperada pelo ponto exato do mapa em que perdi a direção correta, caindo nesse abismo. Deixando-me afundar em meus novos defeitos escondidos, esquecidos e recém redescobertos. Procuro erguer a cabeça e tudo o mais que pesa sobre meus ombros para tentar alcançar a superfície de minha alma degolada pela insegurança que me afunda. Buscando um mínimo de ar que me sustente de pé nessa luta interminável por novos dias e me ajude a atravessar o túnel escuro no qual emergi quando observei os meses passarem e deixei que o tempo me engolisse como uma onda em meio a tempestade, arrastando tudo de concreto que ainda me restava para longe. Tomando o chão onde eu não piso e o teto sob o qual não me abrigo, deixando-me só. No mesmo lugar de sempre. Com meus pensamentos desconexos e as mesmas idéias incompletas que ainda clamam por solução. Permaneço com este espírito que se debate por um movimento do corpo e suplica por uma reação. Rezando para que esses dias logo se vão. E que eu determine o fim dos problemas antes que o fim os termine por mim.

jueves, febrero 17, 2005

da série
Comédia Romântica

ela disse: “sim.”
ele disse: “talvez...”
ela disse: “agora.”
ele disse: “amanhã de manhã.”
ela disse: “eu tô com fome.”
ele disse: “eu também.”
ela gritou: “puta que pariu!!!”
ele não disse nada...
ela disse: “brócolis.”
ele disse: “mortadela.”
ela disse: “faz isso pra mim?”
ele disse: “tá bom.”
ela ligou a TV para ver a novela.
ele ligou o PC para estudar.
ela disse: “bom dia!!”
ele disse: “hmmmmm...”
ela disse: “boa noite.”
ele disse: “zzzzzzzzzzzz...”
ela disse: “eu tô puta!!”
ele disse: “hã?!”
ela disse: “vem aqui em casa.”
ele disse: “eu tô com sono...”
ela disse: “o que você fez?”
ele disse: “nada.”
ela sentou no computador.
ele deitou na cama e ficou olhando para ela.
ela disse: “como foi o seu dia?”
ele disse: “normal.”
ela disse: “você não me dá atenção!!”
ele disse: “como foi o seu dia?”
ela disse: “vem morar comigo...”
ele sorriu...
ela disse: “o que foi?”
ele disse: “nada.”
ela disse um monte de coisas.
ele disse: “a-hám!”
ela disse: “não.”
ele disse: “por quê?”
ela disse: “eu odeio quando você faz isso.”
ele ligou o winamp para ouvir radiohead.
ela disse: “eu gosto de você.”
ele disse: “eu também te amo.”

algumas vezes já temos todas as respostas corretas e ainda
assim continuamos à procura das perguntas erradas.