"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

miércoles, octubre 27, 2004

três pontos
in tense

se tivesse de me definir em uma única palavra
seria esta palavra a marca de minha vida
uma vida vivida – de corpo e alma – intensamente
intenso, é assim que sou

intenso é o meu desejo
intensa é a minha forma de amar
intenso é o meu modo de me apaixonar
e de me entregar por inteiro

de me entregar a um grande sentimento
quer seja ele qual for
de me entregar aos meus desejos
e de me entregar a dor

me entrego sem medo
sofro, lamento
recolho os meus sentimentos
e os meus cacos do chão

e me entrego de novo
sem arrependimentos

me entrego a dor
a solidão, a angústia
me afundo num abismo
e não espero por compaixão

não busco consolo
sofro, exageradamente

uma enchente de emoção me inunda
sentimentos bons, maus sentimentos
me entrego a todos, sem ressentimentos
amo intensamente, sofro intensamente
sorrio e choro, intensamente
buscando a certeza de estar vivendo

dia a dia
intensamente

domingo, octubre 24, 2004

três pontos
Mentiras

Virei meu mundo ao avesso para encontrar as respostas que ninguém mais poderia me dar.
Encontrei um punhado de dúvidas que insistiam em se fazer presentes apesar de todos os meus esforços em fazê-las sanar.
Cheguei a conclusões precipitadas, algumas corretas, muitas erradas.
Mas continuo esperando a confirmação de meus anseios.
Condenar os outros sem certezas é apenas injusto, tolice é condenar a si mesmo.

Percorri realidades distintas, observando o desenrolar dos fatos, captando as cores das paisagens em torno dos caminhos tortuosos por que passei.
Percebi as várias faces da vida que se apresentaram a mim de forma incisiva.
Captando desde o silêncio mais incômodo aos mais belos tons de cinza.
Me descobri sendo franco, transparente, sincero. Paguei o preço de tudo isso.

Aprendi a mentir, a dissimular, jogar, torturar, agredir, fingir e ferir.
Aprendi a ser duro, ser forte, ser frio, seco e também a não ser eu mesmo, nunca.
Sofri, chorei, me envolvi, me dissolvi.
Burlei regras, enganei, machuquei, me perdi.

Aprendi que a vida passa de forma frenética quando você não está vivendo.
Aprendi que a única pessoa que pode viver a minha própria vida sou eu mesmo.
Aprendi que sofria muito mais quando tinha medo de me ferir do que quando tinha coragem de me arriscar.
Aprendi a dizer o que penso e fazer o que quero, custe o que custar.
Aprendi a viver mais e pensar menos, dure isso o quanto durar.

Sempre quis conquistar o mundo...
Hoje quero conquistar apenas algumas pessoas.

miércoles, octubre 20, 2004

três pontos
Labirinto

Os caminhos que me trouxeram aqui foram escuros
por eles caminhei cego e em silêncio
buscando uma vela que me mostrasse aonde eu iria chegar
os corredores eram estreitos, frios e úmidos
percorri lentamente cada viela, atento a tudo a minha volta
o eco dos meus passos me seguindo
marcavam o meu compasso arrastado, quase fúnebre

Os caminhos que segui até aqui me deixaram tonto, atordoado
me encurralaram em cadeias enormes de escadas e bueiros
tropecei pelos corredores e senti o bafo gélido da solidão
cheguei ao chão, ao fundo, ao fosso de meus instintos mais corruptos
sempre levado pelas trilhas escuras desta estrada sem saída
que me prendeu em suas margens, em seus caprichos
em suas rotas confusas e infinitas, circulares, instáveis

busco até hoje a saída
a porta certa
uma certa direção
que me leve de volta a superfície
qualquer coisa que se respire
qualquer desejo que não seja vão

para voltar a sentir
para voltar a ser livre
para voltar ao início de tudo
e não ser privado da chance
de tentar de novo

para voltar a ser belo
para voltar ao que quero
para retomar o caminho
e não me privar da oportunidade
de viver outra vez

lunes, octubre 18, 2004

da série
Comédia Romântica

– vamos fazer o quê hoje?
– hein!? nada... ficar em casa.
– ãh!?
– por quê?
– vamos sair...
– ah, não tô a fim...
– por quê?
– porque não quero. prefiro ficar com você em casa.
– que saco!! a gente sempre fica em casa.
– e qual é o problema nisso?
– eu quero sair! ir pra rua! ver gente!
– olha ali da janela...
– hmmpft!!
– o que foi?
– você ainda pergunta?
– eu não quero sair, prefiro ficar em casa...
– você sempre quer ficar em casa. a gente nunca sai, nunca faz nada.
– mas é tão bom ficar em casa...
– você é muito chato!
– eu sei! e você já me conheceu assim. já sabia disso quando nos casamos.
– eu conheci você naquela boate. quando solteiro você vivia na farra.
– eram outros tempos...
– por quê?
– eu era solteiro.
– e agora que casou não pode mais sair de casa?
– pra quê? se eu quisesse continuar com minha vida de solteiro não tinha casado.
– como é!?
– se eu me casei foi pra ficar em casa e não ter que sair correndo atrás de mulher.
– ah, é assim?!
– e também porque eu te amo, amor.
– sei...
– olha, se você quiser sair pode ir só, tá bom?
– posso? não tem problema?
– claro que eu não vou gostar, mas o que é que eu posso fazer!? não posso prendê-la em casa só porque eu não quero sair.
– poxa! mas você nunca quer fazer nada?! eu quero ir pra rua, ver gente! eu tenho amigos também, sabia?!
– chama eles aqui.
– pra quê!? pra ficarmos enfurnados nesse apartamento? ainda mais com você, que não gosta deles...
– não mesmo.
– porra! você é muito bicho-do-mato mesmo!
– por quê? só porque não gosto dos seus amigos idiotas?
– na sua concepção!
– pra mim é o que basta! é a única concepção que eu posso ter.
– que saco!!
– olha, se você quiser sair com eles pode ir. eu não digo nada.
– eu não quero ir sem você. não tem graça!
– você quer a mim ou aos seus amigos?
– os dois!
– mas não pode ter. não ao mesmo tempo.
– eu sei, você é muito chato.
– então vá fazer o que te der vontade sem mim.
– eu não quero fazer nada sem você.
– então entramos num impasse.
– não dá pra ter um meio termo?
– como um meio termo?
– um meio termo, ora!
– você quer sair de casa e eu quero ficar... você quer ficar comigo, mas eu não quero ir com você. não existe meio termo pra isso.
– a gente sai e volta cedo.
(olha pra ele com aquele olhar que sempre consegue tudo)
– por favooooor...
– aiaiaiai... tá! o quê você quer fazer?
– sei lá?! me diz algo que você queira fazer.
– nada.
– hmmmm...
– vamos ali na sorveteria e voltamos pra casa em seguida.
– não!!
– então resolve você, ora...
– vamos no cinema.
– que tal um DVD?
– aaaaaaargh!!!
– tá bom! tá bom! tá bom! cinema.
– oba!!!
– mas vamos cedo, na sessão das seis. assim estamos de volta até às nove.
– às dez!
...
– nove e meia.

martes, octubre 12, 2004

divagar impreciso
átimo inquântico (ou intervalo de nada)

Paro num ponto qualquer da calçada, interrompendo meu caminho, simplesmente por nada. Tomado por um ralo pensamento perdido num canto qualquer do cérebro que se espalha pelos neurônios e exige todo o córtex para si. Interrompendo meu caminhar, ele se reproduz e se espalha pelo corpo. Uma enxurrada de seus pares me invade de forma instantânea tomando todas as minhas funções num espaço ínfimo de tempo em que posso observar um filme interminável de memórias eclodindo de mim. Um amontoado sem tamanho ou peso de pensamentos dos quais, pelo menos um terço, se referem a ela. Talvez devido ao cheiro forte de batom que se espalha, saído da boca da transeunte que acaba de cruzar meu caminho. Tenho um rápido insight, suficiente para perceber o quão piegas sou eu por pensar nela ao sentir um cheiro qualquer de batom no meio da rua. Deixo o batom de lado e me concentro no turbilhão de passagens que povoam minha mente. Catalogando memórias ponto a ponto, percorrendo todos os registros e decodificando todos os bytes existentes na montagem dos trailers do passado. A vida se atravessa ante meus olhos como se pela hora da morte, fazendo-me recordar de cada detalhe e, pasmem, não me trazendo um arrependimento sequer. A não ser por um punhado de coisas não feitas, parte das quais já devidamente corrigidas. Estendo minha percepção enquanto os carros param ao meu redor e as vibrações sonoras deixam de se propagar através do ar que perde a mobilidade e a fluidez. A existência se apresenta assim, estática. E vai sumindo da visão ao passo em que a inércia se apossa dos raios de luz e das ondas eletromagnéticas que trafegam indiferentes à relatividade da física, mas são incapazes de superar a velocidade do pensamento. O mundo a minha volta desaparece à medida que o tempo pára e cá estou, perdido num vácuo absoluto. Vagando no limbo encontrado num mínimo espaço adimensional de tempo existente entre um milésimo e o milésimo subseqüente de um mesmo segundo. Um ponto de nada no meio do tudo. Um momento surreal de inexistência cósmica provocado por nossa limitada concepção de universo que não admite a existência do espaço sem que aja o tempo para dar-lhe suporte. Estou, instantaneamente, perdido em um meio atemporal e antimaterial. Perco a realidade, perco os sentidos, perco a conexão com o mundo vivo e existo tão somente em subconsciência. E subconscientemente vou deliberando acerca dos mais variados temas. Tomando decisões, tomando nota dos fatos, determinando reações e filosofando a respeito da vida que passava, mas que exatamente no agora, não passa mais. Pára. Inerte, intocável, imutável. É justamente a imutabilidade das coisas que mais assusta. Aquilo sobre o que não se tem poder ou influência. Aquilo que flui independente à minha vontade. É nesta partícula introspectiva de tempo que percebo a sua presença. Ali à minha frente. Estática como o mundo à sua volta. Irretocável. Posicionando-se fora de um plano de consciência. Naquele infinitésimo de realidade não temporal em que tudo é possível no meio do nada que se torna o universo. Num quântico período probabilístico em que todos os corpos podem ocupar qualquer lugar no espaço-tempo. Num instante em que nada existe e tudo pode acontecer até que o último digito do relógio mude completamente de posição nos trazendo de volta à realidade. Lá está você, inexistindo ao meu alcance com seu corpo bem feito de pele delicada e sua face suave de olhar plácido e lascivo. Apenas aguardando o romper daquele infinitesimal instante infinito que se vai quando o tempo retoma o controle do cosmos. Respirando fundo, reorganizo minhas sinapses e reequilibro minha consciência para seguir adiante. Estou parado numa calçada qualquer, numa rua qualquer da cidade que nem sei se é a mesma na qual me encontrava há um mísero segundo atrás, e torno a caminhar em silêncio, dando graças aos céus por aquela ínfima lacuna temporal não ter me consumido por mais de um átimo. Pois desconheço os caminhos tortuosos do meu vago pensar, que me levariam ao longe se tivessem um pouco mais de tempo para tanto. Retomo meu rumo perguntando-me porque falar tanto para não dizer nada.

viernes, octubre 08, 2004

curtas
Bidimensional

Quem eu sou? Não importa. O que quiser ser seria a resposta. Acordado as três da manhã, bebendo qualquer coisa que ponham em minha mesa, observando em volta, traçando as rotas dos jogos infrutíferos de sedução de uma noite, mais uma noite, inútil de perseguição à idéia de ser livre, melhor, maior. Álcool, cigarros, beijos, abraços, gelo-seco, drum’n’bass, techno, dance, pop-rock, cuba libre na minha camisa e a camisa voa como uma hélice em minhas mãos. Sou livre, sou free, sou eu, sou todos, sou qualquer um. Mais um copo de cerveja e mais euforia. Catalisando um estado de prazer, ela, adrenalina. Mais algumas drogas etílicas misturadas a conversas diversas, fúteis, cabeças, divertidas, inúteis. “block my vision, it’s time to go”. Carro, casa, banheiro, vaso, cama... Silêncio, nada... sonhos... que serão esquecidos ao amanhecer (ou ao entardecer, dependendo da hora em que se acorda). Segunda-feira, 6:30 da manhã. Transporte imediato para outra realidade. A minha era a outra, prefiro mesmo ficar por lá. Alguns arrependimentos, alguns entendimentos, muitas dúvidas e uma baita dor de cabeça. Onde eu estou? Mundo real: trabalho-escola-faculdade-ônibus-trânsito-stress... Uma nova sexta-feira no final do corredor.

miércoles, octubre 06, 2004

três x quatro
Polaroid em fim de noite

Agora você me pegou. Falar de mim mesmo? Não tenho muito que dizer, por isso acho difícil, mas vou tentar. Bom, sou difícil de se lidar, menos quando coopero. Acompanhado odeio multidões, prefiro um DVD e pipoca. Solteiro, não tenho limites, estou sempre no meio da muvuca. Fazendo parte dela, sendo engolido, tragado por ela. E me alimentando dela e de quem estiver no mesmo barco. Por outro lado não confio nas pessoas. Tenho poucos amigos, pessoas de extrema confiança, pelas quais tenho grande consideração. Não sou de permitir aproximações facilmente. Tenho uma certa dificuldade em lidar com gente. Odeio multidões. Odeio filas também... ah, e como odeio. Acredito no respeito mútuo e na sinceridade como base primordial de todas as relações, seja de amizade ou qualquer outra coisa. Gosto de ser original e não me prender a modelos. Criei alguns dogmas durante a adolescência porque já tinha quebrado todos os que não eram meus, eles já foram todos quebrados novamente depois de adulto. Não, eu não me considero adulto, mas já com vinte e poucos na cara não dá para me dizer adolescente. Defino-me como pós-adolescente. Sou teimoso ao extremo, exagerado em todas as horas, persistente e insistente com tudo que quero, desde que dependa apenas de mim. Tenho uma enorme dificuldade em depender da vontade alheia, seja para o que for. Aliás, detesto sob todas as formas não ter o controle das situações, quero sempre estar no comando. Em relacionamentos não se pode controlar nada, é verdade... nesses casos me contento em ter total ciência e consciência de tudo, é o mínimo que espero. Costumo ser repetitivo às vezes, me valho freqüentemente de frases feitas, feitas por mim geralmente, e recorro muito aos meus próprios clichês e axiomas. Vivo em constante conflito internamente entre ser original e ser uma cópia, um clone de mim mesmo. Mais um clichê. Evoco palavras que já foram ditas sempre que escrevo para diversos você’s e ela’s, personagens incidentais das histórias de minha busca incessante por um único eu submerso. Utilizo-me de meus erros, aprendo com eles e recaio sempre em estratégias reaproveitadas para conseguir o que quero. Adoro esportes, jogo basquete, amo música, toco guitarra, sou viciado em revistas em quadrinhos e escrevo minhas próprias canções. Meu sonho é ter uma banda de rock para nunca mais ter de trabalhar na vida. Ah! Costumo ouvir vozes e ter idéias malucas de vez em quando. Sou esquizofrênico e maníaco depressivo com sérias tendências suicidas. Mas extremamente covarde: morro de medo da morte e é isso que me mantém vivo. O que é isso no meu copo? Olha, quando cheguei aqui depois do trabalho há sete horas atrás era cerveja. Agora eu confesso que não tenho nem mesmo certeza de que esse copo seja mesmo meu. Mas acho que você tem razão, eu realmente não estou em condições de voltar pra casa sozinho. Você me leva então?

lunes, octubre 04, 2004

divagar impreciso
Back to the Beginning, Looking to the Future

Uma semana, ela disse. Ou mais, talvez. Uma semana já era demasiado exagero para se esperar, cada dia além disso já passa para o plano do absurdo. Já esperei demais, sempre. Já cansei. Esperar dois anos me parece um tempo razoável, mas uma semana e cada dia além dela já se torna uma tortura descabida. Meus nervos parecem querer me estraçalhar por dentro a cada segundo. Meus pêlos parecem querer se enlaçar pelas raízes. Meus olhos perdidos já não têm foco em mais nada que esteja a distâncias inferiores à do horizonte. Meus pés parecem querer correr, cada qual em uma direção distinta, para fugir da torturante jornada de expectativas, concentrando-se no fazer acontecer, embora meu corpo saiba não poder deixá-los ir. Inconformado, mudo de rota e de planos rumo a outros meios de cura. Paliativos, placebos, ilusões, passatempos. Esse caso tem se mostrado mais interessante do que parecera. Nós, na minha e na sua, minha vida sua vida, meus planos seus planos, meus prazeres e seus deveres, tantos. Um jogo que passa a estranhamente me interessar em demasia. Lances de dados viciados. Sem cobranças, sem esperas, sem fantasias. Num olhar, num respirar, num sufocar, num impulso, num hesitar... e o que poderia ter sido já era. Há sempre o momento certo para tudo o que deve ser. Há coisas que têm de acontecer e não se pode impedir, há coisas que se luta para acontecer e há coisas que se impede que aconteçam. E as regras vão sempre mudando. Como os caminhos do destino, maleável, volúvel, volátil. Segredos existem para serem desvendados, nunca revelados. São somente desabafos que não servem para serem entendidos, nem mesmo por mim. Reflexos de uma dificuldade em responder às expectativas que se criam sozinhas. Uma rejeição velada à idéia de assumir encargos que me cabem além dos que dizem respeito unicamente a mim, responsável por mim mesmo com tantas ressalvas e obrigado a aceitar mais culpas. Já cansado. Cansado de ter de medir as conseqüências de minhas decisões e meus atos na vida dos outros. Por vezes percebendo não ser tão ruim ser sozinho absoluto. Pelo menos quando ando de saco cheio de não ser livre por inteiro. É olhar pra trás e pensar em como seguir em frente, ou seguir sem pensar. Começar do meu próprio início, para não ter de continuar nada. Quero apenas ser dono de mim mesmo e de mais ninguém...