"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

lunes, mayo 25, 2009

divagar impreciso
A Volta do Parafuso

Penso nas voltas que a vida dá e nas voltas que, muitas vezes, ela nos dá. Pressionando-nos como um parafuso ou nos aliviando como a um pião. Perpetuando incertezas que se desfazem e refazem ao sabor do giro do mundo que construímos em torno de nós mesmos. Trafego por entre as reviravoltas da vida que se desenrola como uma espiral cambaleante, tropeçando por sob as ondas que me golpeiam, me engolfam, enquanto ainda procuro aprender a surfar. Tomando caldos, retorno sempre a esse movimento helicoidal descendente cuja força centrípeta me comprime ansiosa e me desaloja de toda e qualquer intimidade com o mundo que me cerca. Inapto a reconhecer tantas formas estranhas de carinho manifestas por uma sociedade que se contorce com movimentos caóticos provocados por uma massa que se ‘disforma’ numa triste tentativa de se individualizar sempre mais, impondo regras e limites à pluralidade que se manifesta cada vez mais através de bolhas de conforto que impedem o entrelaçamento das vidas que não se tocam mais que superficialmente, eu me torno incompreensível em minha ótica absurda que busca satisfação no substancial que só se faz visível nos recônditos mais obscuros da alma. Busco a profundidade e nela me afogo, por não encontrar onde pisar. Saio procurando, tateando, vacilando, tentando alcançar das pessoas o que jaz confinado no lado escuro de suas mentes. Um toque humano de esperança capaz de sobrepujar o medo que nos assola dos seres ao nosso redor. Luto contra meus desejos e me vejo cair. Tento me ater a uma fé que me liberte, mas não me livro das amarras da solidão. A solidão cinzenta de que usufruímos em meio às massas. Atravesso meus percalços como se já não mais importassem e finjo superá-los. Permeio relações descartáveis como se isso me bastasse. Transito por entre amores genéricos ou reciclados enquanto busco por um viver maior do que o prazer. Como se fosse possível haver amor recíproco num mundo tomado pela desconfiança no próprio desejo. Tento me refazer, recompondo os destroços esquecidos pelo caminho em meio às vicissitudes da vida que me moldaram em algo insólito que ainda hoje tenta se perceber. Trazer de volta um ‘eu’ que se perdeu entre os labirintos de uma mente fluida, mas desacreditada e decepcionada com as pessoas. Tomo impulso para tentar emergir, ensaio respirar de novo, mas caio de volta na espiral descendente que me toma nos braços e me suga para a sua zona de conforto que já não mais me comporta, me comprime e me faz implodir. Sinto o golpear, na boca do estomago, da vida que teima em pulsar errática em minhas artérias. Queimando e ebulindo esse desejo que me sustenta tanto vícios quanto virtudes. Me agarro a esse fio de percepção e tomo fôlego para encarar mais um dia. Fazendo força para dividir minhas atenções com o mundo, as imagens que faço dele e o outro mundo que habita em mim, tentando preencher as lacunas entre os pedaços da minha vida. Busco uma vez mais sorver ar puro, por mais que me faça arder os pulmões. Sustar o solfejar melancólico da solidão que me sufoca com delírios e anseios vãos para restaurar a conexão comigo mesmo e com a realidade à minha volta. Pouco a pouco, passo a passo, me reconstruo e recrio esse mundo dentro de mim. Um dia de cada vez.