E você me pergunta agora de que valeu tudo isso? Eu te repondo: valeu muito para mim. Mesmo tendo chegado ao fim. Porque as risadas que demos juntos não foram falsas, foram gargalhadas desferidas com muita satisfação e cumplicidade. Porque as pizzas e lasanhas que comemos juntos aconchegados em nossa cama eram simples e sem pompa nenhuma, mas tinham muito mais sabor do que aquelas que desfrutamos em qualquer restaurante italiano. Porque os fins de semana que passei em sua companhia foram muito mais divertidos do que o tempo do colégio, da escola, da faculdade e valeram mais do que quaisquer viagens de férias a Disney ou a Paris ou Buenos Aires ou qualquer praia deste nosso vasto litoral, sem sombra de dúvida. Porque as tardes em frente ao vídeo K-7 vendo e revendo filmes antigos foram muito mais interessantes do que qualquer ida ao cinema para assistir aos blockbusters da temporada. Porque a marca de teus dedos e tuas impressões digitais repousam até hoje firmes na pele de meu braço esquerdo por conta dos apertos que você dava quando se assustava assistindo filmes de terror. Porque o cheiro de teu perfume ainda povoa meus lençóis e travesseiros inundando meu quarto e me fazendo lembrar de cada noite que deixamos de sair em companhia de nossos amigos para ficarmos a sós. Porque as madrugadas que rasgamos juntos naquela cama que tantas vezes teve de ser concertada pela manhã ocupam lances enormes de memórias que nunca serão apagadas ou reescritas por ninguém mais que não seja você. Elas foram mais aprazíveis do que todas as festas e baladas e noitadas e luais e reuniões de amigos e happy hours dos colegas de trabalho e peladas com os colegas do colégio e sarais e sessões de teatro ou de cinema ou shows de rock ou de MPB ou conversas de barzinho ou qualquer outra coisa que já tenha feito ou que venha a fazer. Porque o efeito daquelas noites ainda ressona demasiado forte nas minhas vísceras, na minha cútis, no meu humor, na minha vaidade. Por que nada do que passamos foi em vão? Porque foi inigualável e insubstituível. Porque foi único em todas as formas. Porque, por mais que o tempo tenha passado, por um dado momento, congelado por eras em meus sentidos, nós bebemos do supra-sumo do que se pode esperar de uma iteração entre dois seres. Porque, mesmo que tudo hoje seja findo, nós podemos levar conosco para sempre a noção real e palpável do que pode ser a felicidade. Não, nada na nossa história, do inicio ao fim, pode ser dito em vão. Digo que não. Porque vou viver feliz até o último dos meus dias por ter a certeza de que vivi algo tão forte que tempo algum será capaz de apagar. Porque ninguém será capaz de fazê-la esquecer-me nem por um instante, assim como aqui, em mim, você jamais terá substituta á altura. Porque cada uma das nossas noites foi insuperável em sabor e candura. Porque, por mais que me esforce, não sou capaz de pensar em você de nenhuma forma que não seja minha. Minha amante, minha mulher, ou simplesmente minha. No sentido mais forte que esta palavra possa ter. Porque noites em claro, do escurecer ao raiar do dia, ao lado de quem se ama, não são apagadas da lembrança como os dados de um disquete mofado. Porque se fosse só pela comodidade de um orgasmo matinal resolveria meu problema sozinho sem ter de me ocupar do seu prazer exigente. Porque era no seu prazer exigente onde realmente residia a minha satisfação. Porque poucos homens sabem dar prazer e realmente satisfazer uma mulher. Porque muitas mulheres já me viram gozar, mas poucas foram capazes de me fazer sentir prazer de verdade.
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