"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

lunes, septiembre 25, 2006

divagar impreciso
...dos dias que entraram pra história

“existem marés e existe a lua”
Se a felicidade completa fosse alcançável, será que a vida teria a mesma graça? Sem o risco da derrota, que prazer a vitória traz? Que garantia se tem de ter feito, a cada escala, a escolha correta do itinerário? ou a melhor? Se na verdade não existem respostas certas ou erradas, existem apenas respostas. Não existem finais felizes ou tristes, mas apenas finais. Resultados dos inúmeros desdobramentos em efeito borboleta que me trouxeram até aqui. Não vale a pena perguntar, e talvez seja melhor mesmo não saber, aonde mais eu teria chegado, ou não, a cada um deles. Escolher um caminho e abrir mão dos demais. Olhar para trás, de vez em quando, para as supostas estradas vizinhas, nunca. As escolhas se exigem, não se concedem, cada qual a seu modo e momento, certos ou errados, para quem quer que seja, apenas os seus próprios momentos. A única escolha nunca se tem é a de não escolher. Que no fundo, ainda confere a responsabilidade pela opção que não se fez. E que sempre se faz. As conseqüências de minha história, aparentemente tão reta e, nas entrelinhas, tão errática e repleta de conflitos, dúvidas, mas não de omissões. Erros, falhas e decisões imprecisas. Tudo que parece hoje ter sido tão simples é só um resumo que empalidece o brilho de cada tomada e ofusca uma série de equívocos diluídos em meio às cinzas do tempo. O progresso se faz de acertos; a evolução dos erros; estes daqueles e a história de ambos em sua própria relevância. Já destruí toda a minha vida com as próprias mãos três vezes e, dos escombros, me reergui. Novo e ao mesmo tempo calejado, sem sucumbir, ainda assim, ao medo de correr novos riscos. Sem conflito, não há progresso. E nada se absorve da vida que não implique em arriscar-se de igual modo ao seu valor. Arriscar-se sempre, porque mais que ser feliz, é preciso viver. E se sentir vivo – bem mais do que apenas estar. Porque se a felicidade plena não existe, é a sua busca constante o que satisfaz. E a certeza de estar sempre fazendo mais e o melhor de si mesmo. por si mesmo e por quem lhe precise, nunca por quem lhe exige. Eu sou apenas dono de mim mesmo. E não preciso provar mais nada a mais ninguém.

martes, septiembre 19, 2006

da série
Luís
parte II - 300 picaretas

“homens não seguem homens, seguem idéias.”
Ele conheceu o homem que proferiu esta frase e, com a benção do novo amigo, partiu acreditando que faria do seu povo uma nação tão grande quanto poderia ser. Deste honrado amigo, companheiro da luta pela liberdade, tirou lições, inspiração e paixões. Seu nome era Fidel, e ele nunca desistiu. Enfrentou com empenho uma ditadura tirânica sem esmorecer jamais. Primeiro judicialmente, depois ideologicamente e por fim, vendo todos os seus esforços se fazerem inúteis na busca pela realização dos anseios de seu povo, com armas em punho e uma idéia na cabeça, comandou um levante que tomou as rédeas de seu país das mãos de déspotas sanguinários e entregou-as ao povo em suas próprias. Assim como seu novo amigo, ele acreditava numa idéia, mas ao invés de um único antagonista, seu povo tinha vários. E ele sabia – teria de vencê-los democraticamente no plano ideológico, um a um, para atingir a libertação tão sonhada. Aprendeu, dia após dia, que o caminho tortuoso se faria cada vez mais penoso; que muitos dos que o acompanhavam tombariam no decorrer da dura jornada; que muitos seriam corrompidos e vários simplesmente desistiriam de lutar enquanto outros se aliariam a sua causa. Num ciclo de homens que vem e se vão para manter acesa a chama de uma idéia. E firme, ele sustentou-se diante das ofertas, tentações e ameaças que o quiseram derrubar. Ele percebeu que os déspotas eram muito mais e maiores do que pensava e que ficava cada vez mais difícil enfrentá-los. Pois o seu povo, sentido, sofrido, alienado e abduzido da fé em si próprio, entregara seu destino nas mãos daqueles que o iludiram e o fizeram acreditar que não apenas bons ou melhores, eram também os únicos capazes de guardá-los. A mais bela tribo era dia a dia arrasada por ser inocente, convencida de que era prova de amizade ser destituído até mesmo do que já não se tinha. O seu povo era ingênuo e não eram poucos os corruptos dispostos a se aproveitar de tais circunstancias, entre aqueles que o representavam com tanto vigor e ostentando palavras de ordem democrática, eram quase todos. E era difícil convencer um povo deposto de sua liberdade por tanto tempo, de que não era incapaz de cuidar de si mesmo; fazê-lo entender que sua dignidade estava ao alcance de todas as mãos que se pusessem a lutar por ela em lugar de seguir esperando pela vinda de subseqüentes salvadores da pátria que findavam sempre por violentá-la mais e mais. Mas isso um dia teria de mudar.

lunes, septiembre 11, 2006

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angels in black

"o senhor da guerra não gosta de crianças"
Uma mãe toca o rosto do seu filho. Acaricia-lhe a testa e tenta, uma vez mais, encontrar uma centelha mínima de vida que ainda lateje dentro de seu corpo inerte, pálido e perfurado por projeteis das armas de fogo empunhadas por aqueles que se dizem servos fiéis de um deus que pede por mortes e violência em troca da salvação de suas almas. Para guardá-las por toda a eternidade aos cuidados de 72 jovens virgens no seu paraíso psicodélico. Seres humanos, de carne e osso, com certeza, cujo espírito há de se duvidar da existência. Movidos pelo amor incondicional a um deus de ódio, que apenas eles acreditam existir. Empunhando suas armas e sua fé contra a vida de seus semelhantes, para obter a glória máxima de poder levantar aos céus suas mãos manchadas de sangue inocente de crianças que não votam em presidentes, que não entendem a balança comercial, que não escolheram um lugar para nascer ou para viver, que não entendem a distinção entre indivíduos da raça humana nascidos negros ou brancos, neste ou naquele continente e não tiveram a oportunidade de escolher um dentre os tantos deuses adorados ao redor do planeta. Crianças que não viverão para ver os seus sonhos nascerem e não terão oportunidade de escolher torná-los ou não realidades. Que não saberão a diferença entre amar e estar apaixonado. Que não conhecerão a sensação do primeiro beijo, do primeiro amor, da primeira decepção, das amizades duradouras, das dificuldades da convivência em sociedade. Que não sentirão a vergonhosa confusão de ver os seus pêlos nascendo, seus desejos surgindo, suas vidas sendo compostas e saciadas. Que não terão uma primeira vez, um primeiro emprego, uma formatura de colégio, uma adolescência, uma vida. Que foram privados do maior presente que Deus já lhes deu. Tomado de volta por covardes terroristas fanáticos em nome de um outro deus qualquer. Se o paraíso que eles buscam realmente existe eu não sei, mas se existir, hoje, certamente, todos os seus anjos vestem negro. Como os anjos que se preparam para receber os seus novos companheiros, nascidos a pouco e já falecidos, nas falanges de um exercito que um dia, terá de lutar uma guerra para, enfim, conhecer a paz. Assim como essa mãe que hoje não vê esperança, futuro ou chão sob os pés. Apenas o corpo gelado e putrefato de seu filho com um buraco de bala nas costas. Desalento, desconsolo e medo. O medo de todas as mães que não querem ter os seus filhos enrolados em sacos plásticos, misturando-se às estatísticas dessa guerra santa sem sentido. Que temem pelos seus filhos, que transitam pelas ruas das grandes e pequenas cidades de todo o mundo. Fortalezas do preconceito, da exclusão, do terror e da crescente desvalorização da vida. Onde os sonhos viram números amargos e frios em folhas de jornais e películas de TV. A essa mãe, não restam mais sonhos, não resta mais esperança, não resta mais vida, não resta mais nada. Ao mundo, resta uma comoção tênue por um pequeno lugar afastado e esquecido, que não se compara a uma grande metrópole com suas torres indo ao chão e levando consigo cifras incontáveis de dólares. A esta pequena cidade de trinta mil habitantes, resta uma marca que nunca será apagada, uma escola em ruínas rodeada por minas terrestres, algumas centenas de corpos a serem velados e um ginásio que guarda as recordações de uma tragédia incompreensível, em suas paredes crivadas de balas e no chão de sua quadra lavado com sangue.
Beslan, Rússia – 03 de setembro de 2004