"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

miércoles, mayo 25, 2005

angel of silence: um ano
disritmia melódica

Tento parecer inteiro, mas tudo o que tenho são partes randômicas de uma melodia com tons e compassos variados e desconexos vibrando em meus tímpanos e atormentando meu cérebro. Quando caio no abismo deixado entre minhas próprias palavras não encontro mais elementos para me reagrupar e voltar a ser único. Indivisível. Tento insistentemente ser palpável, mas perco-me sempre no vago arquétipo de ser abstrato em meio a um aglomerado caótico de elementos disrítmicos, incompreensíveis como um todo e subjetivos um a um. A subserviência de minhas frases se desfaz quando ensaio uma leve imersão em ambiente coeso e o silêncio absorve meus olhos. Os rastros na areia de minhas múltiplas personalidades trafegam em rumos distintos como se repelindo uns aos outros, deixando sozinhas as pegadas de um eu confuso e tolo que se perde num caminho sem destino, levado por um impetuoso devaneio impreciso de desejo por nada. O silêncio e o nada são absolutos em sua inexistência. Absorto em idéias que não se completam, espalho-me ao seguir do vento pela incapacidade de ser contido em essência por um corpo desfragmentado e disforme. Meu ser se derrama fluido pelos esgotos fétidos de uma mente insana e se amontoa em um canto asséptico buscando uma vez mais assimilar uma forma que não seja sua, mas seja sólida. Subjetivo em consciência, abstrato em essência. Furta-cor inodoro irreal invisível insolúvel insensível inepto. Planejo enredos e destinos. Concebo personagens e figurantes. Projeto edifícios e construo cidades. Desenho uma vida em palavras esferograficamente precisas e resvalo num ponto de fuga qualquer, tecendo meus traços e escondendo a mim mesmo. Criatura abjeta e atormentada. Elemento infantil de inocência maculada. Acorde menor de escala atônica incompreensível. Adolescente impassível convalescente de incoerência e subjetividade abarrotado de boas intenções. Quase sempre.

lunes, mayo 23, 2005

três pontos
mudanças

Quase apegado às novas formas que meu cotidiano tomou, tento me concentrar num caminho ainda infindo e me manter seguindo em frente. Rumo ao futuro.

Quase que completamente desapegado à vida que já me pertenceu, que ainda espera o meu retorno, mas duvida muito disso, tento esconder minha ansiedade pela oportunidade de voltar atrás. Rumo ao passado.

Quase cansado das séries de repetições e reavaliações a que tenho sempre me submetido, tento me concentrar sempre no que ainda há para ser apreendido, e me desespero com a idéia de já ter esgotado todas as novidades.

Quase decidido a tomar um novo caminho, tecer uma nova teia e buscar novos horizontes. Busco saciar a minha sede, a minha fome, o meu desejo por mais. Seguir novos rumos.

Quase livre do gosto amargo das feridas já fechadas, das mensagens enviadas, das verdades digeridas, re-avalio a possibilidade de voltar a ser quem eu era, mas sem perder de vista quem eu sou. Recuperar a velha ótica sem perder a nova visão.

Quase curado do receio, do medo, dos dogmas, livre das fronteiras e cercas de meu velho mundo, sigo em minha jornada. Crio meu novo universo a partir de CDs antigos e filmes clássicos. Projeto um novo planeta em guardanapos descartáveis e me transporto...

Sigo viagem.
Navego esse mar de vinho tinto.
Rumo ao desconhecido.

sábado, mayo 14, 2005

luto
Last Tears

May God bless the King...
Queria estar ao seu lado agora para segurar sua mão e amparar esse momento tão difícil, assim como você amparou tantas das minhas tristezas e certamente ampararia mais esta se pudesse. Queria ajudá-lo a caminhar quando suas pernas perderam a força, assim como você ajudou-me a dar os primeiros passos quando eu ainda nem tinha forças nas minhas. Queria ver o seu último sorriso escapar de seus lábios cansados, assim como você viu aquele primeiro sorriso que arrancou-me com suas brincadeiras tão singelas e tantos outros que me deu realizando os meus sonhos infantis. Queria ter beijado o seu rosto e enxugado a sua última lágrima, assim como tantas vezes você me beijou e enxugou tantas das minhas lágrimas com seu carinho, cuidado e aquela atenção que somente você poderia me dar. Queria ter estado presente quando seus olhos secaram e o último suspiro deixou o seu corpo, assim como você esteve lá quando eu respirei sozinho pela primeira vez e a dor de conhecer um novo mundo me fez soltar o mais inocente dos choros. Queria ter estado ao seu lado quando a luz se apagou para os seus olhos assim como você esteve presente para vê-la invadir os meus desde os primeiros dias. Mas o que eu queria mesmo agora era estar ao lado de todos aqueles que o amam e poder abraçá-los e dividir essa dor que você não pode mais abrandar com seu sorriso de olhar meigo e sincero. Queria ter estado com você nesses dias em que não estive e, quem sabe, sem essa culpa de não tê-lo feito, essa dor não parecesse tão amarga quanto parece a essa distância. Queria encontrar o chão sob os meus pés para poder caminhar até você lhe dizer o quanto o amo. Queria ter tido tempo para dizer-lhe isso mais uma vez. Mas agora me diz você o que é que eu posso fazer para tirar do meu peito essa dor e essa culpa que vai me acompanhar por todos os meus dias, que só agora me dei conta, são finitos. E me diz por que, ironicamente hoje, o dia está tão lindo, e da minha janela dá pra ver uma antena de TV. Pois esse azul no céu sem nuvens parece tão mais triste e melancólico do que é a vida de costume. É sufocante imaginar que um novo dia raiou e você não mais está aqui para vê-lo, ou senti-lo. E eu não sei o que dizer, nem mesmo o que fazer. Pois embora as objetivas estejam sempre denunciando o quanto de mim é puro reflexo seu, eu não consigo pensar em como pode ser, daqui pra frente, a vida sem você. Tenho certeza, os céus se abriram para recebê-lo. E eu só agradeço por ser o que sou e prometo fazer bom uso de tudo o que me ensinou. Eu serei sempre forte, pois guardo o seu orgulho comigo. Talvez a minha pouca fé não me dê alicerces para me restabelecer tão rápido quanto deveria, mas ainda assim eu grito: “que Deus abençoe e guarde o Rei”.

jueves, mayo 12, 2005

três pontos
Ritual de Passagem

Uma sensação de vazio avassaladora te absorvendo desde as raízes dos cabelos até as unhas dos pés, passando por cada vértebra da coluna, desligando as conexões do sistema motor. Mãos geladas, suadas e tremulas, assim como as pernas e demais partes do seu corpo. Uma sede que te consome de repente, que você vai tentando matar com essa saliva insossa e seca, mas não consegue. Vontade de fugir, de correr, de sumir, de se esconder. Um fosso sem fundo, negro, úmido e frio sob seus pés. Falta de chão, de teto, mas não de paredes. Paredes que te apertam, que se fecham sobre você sem deixar espaço para se locomover, sem deixar espaço para se mexer, sem deixar ar para se respirar, sem deixar corpo para se sentir. Vão apertando, apertando, apertando. Primeiro seu corpo, depois sua cabeça, sua alma em seguida, depois o seu peito e por fim, seu coração sendo feito mínimo, parado, assustado. Apertado e parecendo que vai desaparecer ali dentro de seu tórax dolorido. Uma dor sufocante que parece imortal. Uma dor dilacerante que parece insuportável. Uma sensação de impotência, incapacidade de mudar os fatos, de transformar a realidade. Uma vontade gritante de retroceder no tempo e alterar a sorte. Uma culpa inafiançável de não ter feito, de não ter dito, de não ter pedido, de não ter sorrido, de não ter abraçado, de não ter vivido. Um desejo incontrolável de caminhar para traz e agir diferente, de pedir desculpas, de dizer que sente, de dizer que gosta, que admira, que confia, respeita, ama. De dizer que vai sentir muita falta. Um eco ressonando em seu tímpano como um badalo de um sino enorme que repete cada palavra dita insistentemente para um interlocutor que não se faz presente. As palavras indo e voltando com força, como se precisassem ser ouvidas, como se precisassem ser digeridas e como se fossem ecoar para sempre no silêncio das respostas que não são mais dadas. Um sentimento de perda que parece que nunca será superado, porque realmente nunca o será. Uma ausência que se fará sentir constantemente até um sempre que só terá fim quando finados forem também os seus dias. Um desalento e um desconsolo simétricos a todos os afluentes do seu corpo que quer se contorcer diante da luz de um novo dia que agora só chega para você. Uma tristeza inconsolável e uma angústia inconformada com a imutabilidade dos fatos. Com a irreversibilidade daquele destino. Uma necessidade incompreensível de se despedir de alguém que já se foi e já não pode mais ouvi-lo. Que já partiu e nunca mais irá voltar. Um olhar choroso, acompanhando cada passo do trajeto definitivo daquele corpo que podia ir aonde quisesse, mas que agora jaz vazio e inerte com uma expressão incolor e difusa. Uma receita de simbolismos que não ajudam a arrefecer o abalo provocado por um evento que te pega sempre de surpresa, por mais que se esteja a sua espera. Um último adeus sem resposta. Uma necessidade de levantar a cabeça e seguir em frente mesmo que lhe falte um pedaço do corpo, mesmo que haja uma ferida que parece que nunca vai cicatrizar, mas que você sabe que um dia cicatriza. Mesmo que seja imprescindível, poupar da luminosidade do dia os olhos pálidos e o corpo cansado, escondidos por traz de lentes e vestes negras. E por fim, a certeza de que as coisas retornam sempre ao normal, mesmo que seja uma nova normalidade completamente diferente. É a vida que segue em seu curso.

martes, mayo 10, 2005

três pontos
Esquiz(it)ofrenia

Ouço vozes por trás da porta que me dizem para ser mais maleável, que o meu agir sempre correto pode não ser assim tão correto ou que deveria ser menos ágil

Ouço vozes que vêm da parede que me alertam para desconfiar de tudo e de todos, fechando espaços vagos em posições estratégicas que propiciam ataques traiçoeiros e oportunistas

Ouço vozes embaixo da cama que se propagam pelos cantos do quarto me impelindo a levantar e correr mundo a fora em busca de um lugar seguro ou simplesmente ao encontro de diversão, doses e overdoses de formas estranhas de diversão

As vozes ecoam pelo banheiro e lambem meus ouvidos de forma causticante e libertina, me pedindo amor, me pedindo dor, me pedindo ações e reações, me propondo tudo aquilo que me disponho a não ser e fazer

Ouço vozes de dentro do armário, elas me repreendem de maneira impiedosa, me pedindo que seja mais severo com os outros e menos comigo mesmo

Ouço vozes dentro de um copo d’água que me exigem atenção, que querem ser ouvidas, atendidas e não contestadas ou ignoradas, querem de mim a mim mesmo e tudo o que sou

Ouço as vozes que me vêm do peito que me dizem quem não sou, sem nunca esclarecer aquilo que realmente sou, criatura de hábitos estranhos e estranha forma de observar o mundo à sua volta, com olhos críticos e implacáveis, lotado de idéias pré-concebidas e imutáveis acerca de tudo

Ouço todas as vozes, mas não as atendo, são como torneiras pingando a noite pedindo para seguir a gravidade. Não tomo atitudes, me contenho...
Sou esquizofrênico consciente, finjo que não me escuto e faço-me parecer normal

viernes, mayo 06, 2005

divagar impreciso
Eu, primeira pessoa do plural

Anos a fio fugindo de modelos, quebrando paradigmas e ainda assim buscando aceitação apesar de toda a teimosia. Após a constatação da invariável rejeição social por tudo aquilo que não se molda aos padrões, o abater da desistência se instalou em definitivo. Obter aceitação de um mundo capitalista sócio-classista preconceituoso e egoísta não me fará gozar em momento algum. Então foda-se. Eu não preciso ser normal. Não quero ser normal. Não tenciono enquadrar-me em protótipos pré-moldados de grupos e tribos urbanas com seus rituais e vestimentas típicas nem pretendo agregar elementos externos a minhas diversas naturezas para fazer pose. Nunca fiz parte de gangues juvenis com seus gritos de rebeldia desfocada e sua antimoda fake-underground em casca, mas capitalista em essência, e também nunca me encaixei nos bueiros high-societies burgueses com seus arquétipos de educação, falas pré-aprovadas, encontros pré-marcados, gestos pré-decorados e sorrisos decorativos. Odeio gente chique – eu não uso sapatos! E prefiro parecer estranho a ser considerado normal. Sou obscuro, obtuso, obsceno, atrevido, hiper-ativo, insolente. Misterioso, mas sincero. Translúcido, embora resguardado. Borbulhante de opiniões, com atitude contida, mas incisiva. Reluto contra os preconceitos que insistem em entrincheirarem-se em meu tutano, mas mantenho idéias pré-concebidas e discuto em contestação. Escritor anônimo, profissional autônomo. Autômato. Liberal e libertário, mas não liberto. Lutando para ser livre. Provar pra todo mundo que não preciso provar mais nada pra ninguém. Nada além do que já foi provado. E conquistar cada vez maior espaço. Disseminando minha verve fulgurante e explodindo a minha dissonância ao sabor dos ventos, agregando-me às mentes abertas. Mesclando idéias e conceitos por força da maleabilidade poética. Característica supravital da poesia, que é modelada na visão de quem a escreve para encaixar-se na vida de quem a lê. Pluralidade intelectual interpretativa.