"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

martes, mayo 02, 2006

três pontos
Números

Sempre que desconecto a mente do trabalho deixo o pensamento percorrer caminhos tortuosos.
Hora levado pelo vento, hora montado na imaginação, muitas vezes na inspiradora vontade de ser livre.
Outras sendo guiado pela minha geométrica percepção do mundo a minha volta, fortemente distorcida pela sua influência.
Cavalgo a esmo pelo deserto de recordações suas, contando aquelas que permanecem comigo.

Conto as horas que passo ao lado do telefone a espera de uma ligação.
Me perco em meio aos meus dedos enquanto a conta trafega para o infinito.
Estouro o número de bits a que tenho direito em meu corpo e recomeço a contagem.
Desisto, já perdidas as vezes em que voltei de dez a zero em menos de uma semana.

Percorro a agenda do celular tocando em um punhado de números que me trariam você.
Casa, celular, trabalho, escola, amigas, vizinha, mãe... um amontoado de códigos anexados a um nome que, não parece, mas fazem todo o sentido para mim.
Recolho notas de compra, de contas, de ligações infrutíferas, de gastos de meu tempo vão,
que perdeu a linearidade dias atrás, quando passou a caminhar a esmo seguindo memórias sem data, sem relógio, sem direção.

Circulo por caminhos já atravessados e tempos já idos, recolhendo os cacos de meu ego desfragmentado, deixados como trilhas intermináveis ao longo dos caminhos que me levaram a você.
Frações de um ser incompleto que você rejeitou enquanto descascava minha mente diluída.
Me moldando, me formatando, me arredondando. Apenas para facilitar os cálculos.

Recomponho-me em meio aquele punhado de nomes e números codificados em um pequeno e apertado display.
Anoto, calculo, reconto os beijos que te dei, o número vezes que te toquei, as partes de teu corpo que acariciei.
Quantas palavras trocadas, quantas promessas quebradas, quantas noites vividas, quantas manhãs interrompidas.
Flashes de memórias que me torturam com os pensamentos errantes que percorrem os labirintos de minha mente.

Números números números...
por que penso tão melhor em meio a criptografia dos teus números?
Números são apenas números...
e os números são sempre tão frios...