Procuro administrar a loucura intrínseca ao meu ser numa roda periodicamente oscilante que redireciona meu comportamento para cada fase do modo que melhor me convém. Ora libertando-a em doses homeopáticas, ora reprimindo-a numa garrafa de vidro em meu peito, ora abusando dela indiscriminadamente, mas sempre sustentando o controle das cordas. Amarro a pulsante vontade que tenho de jogar tudo para o alto e partir em busca de novos rumos entre as cordas da minha guitarra e a carrego comigo junto à mochila nas costas para tê-la como âncora e ponto de partida quando todo esse desejo atravessar o novo ciclo e se fizer latente como uma saudade que poderá me trazer de volta. Sigo assim, fazendo o agora ter sentido mesmo que não combine com o depois. Cansei de pensar no antes. Cansei de planificar o amanhã com nanquim em folhas papel vegetal tamanho planta. Cansei de não fazer o que quero sempre que isso implica invariavelmente em não ser o que sou. Passei a planejar os segundos restantes de minha existência sem contar com a possibilidade que eles somem mais do que algumas horas e caí na estrada sempre curvilínea dos meus novos dias. Mas guardei um conjunto de agendas anuais com projetos pré-datados para serem contemplados cada um a seu tempo. Desisti de ser livre e me deixei levar por seu encanto. Assumi minha maldade e busquei redenção, mas não criei arrependimentos nem mesmo pedi perdão. Guardei meus segredos entre os anéis dos meus dedos e os deixei à vista de seus olhos, para que pudesse desvendar meus mistérios e assim se enlaçar em minha personalidade escorregadia. Deixei minha loucura explodir no brilho do teu olhar cintilante e ameno. Escorregar pelo teu rosto e cair no chão repetindo o molde de sua expressão desentendida e se quebrar, desfazendo minhas crenças. Perfilando a verdade à minha frente, assumi a vergonha de negar os fatos. Que foi loucura pensar em você, que foi capaz de me capturar por ser exatamente o oposto de tudo aquilo que idealizei para mim. Um reflexo de mim mesmo.
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