"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

martes, mayo 10, 2005

três pontos
Esquiz(it)ofrenia

Ouço vozes por trás da porta que me dizem para ser mais maleável, que o meu agir sempre correto pode não ser assim tão correto ou que deveria ser menos ágil

Ouço vozes que vêm da parede que me alertam para desconfiar de tudo e de todos, fechando espaços vagos em posições estratégicas que propiciam ataques traiçoeiros e oportunistas

Ouço vozes embaixo da cama que se propagam pelos cantos do quarto me impelindo a levantar e correr mundo a fora em busca de um lugar seguro ou simplesmente ao encontro de diversão, doses e overdoses de formas estranhas de diversão

As vozes ecoam pelo banheiro e lambem meus ouvidos de forma causticante e libertina, me pedindo amor, me pedindo dor, me pedindo ações e reações, me propondo tudo aquilo que me disponho a não ser e fazer

Ouço vozes de dentro do armário, elas me repreendem de maneira impiedosa, me pedindo que seja mais severo com os outros e menos comigo mesmo

Ouço vozes dentro de um copo d’água que me exigem atenção, que querem ser ouvidas, atendidas e não contestadas ou ignoradas, querem de mim a mim mesmo e tudo o que sou

Ouço as vozes que me vêm do peito que me dizem quem não sou, sem nunca esclarecer aquilo que realmente sou, criatura de hábitos estranhos e estranha forma de observar o mundo à sua volta, com olhos críticos e implacáveis, lotado de idéias pré-concebidas e imutáveis acerca de tudo

Ouço todas as vozes, mas não as atendo, são como torneiras pingando a noite pedindo para seguir a gravidade. Não tomo atitudes, me contenho...
Sou esquizofrênico consciente, finjo que não me escuto e faço-me parecer normal