três pontos
Esquiz(it)ofrenia
Ouço vozes que vêm da parede que me alertam para desconfiar de tudo e de todos, fechando espaços vagos em posições estratégicas que propiciam ataques traiçoeiros e oportunistas
Ouço vozes embaixo da cama que se propagam pelos cantos do quarto me impelindo a levantar e correr mundo a fora em busca de um lugar seguro ou simplesmente ao encontro de diversão, doses e overdoses de formas estranhas de diversão
As vozes ecoam pelo banheiro e lambem meus ouvidos de forma causticante e libertina, me pedindo amor, me pedindo dor, me pedindo ações e reações, me propondo tudo aquilo que me disponho a não ser e fazer
Ouço vozes de dentro do armário, elas me repreendem de maneira impiedosa, me pedindo que seja mais severo com os outros e menos comigo mesmo
Ouço vozes dentro de um copo d’água que me exigem atenção, que querem ser ouvidas, atendidas e não contestadas ou ignoradas, querem de mim a mim mesmo e tudo o que sou
Ouço as vozes que me vêm do peito que me dizem quem não sou, sem nunca esclarecer aquilo que realmente sou, criatura de hábitos estranhos e estranha forma de observar o mundo à sua volta, com olhos críticos e implacáveis, lotado de idéias pré-concebidas e imutáveis acerca de tudo
Ouço todas as vozes, mas não as atendo, são como torneiras pingando a noite pedindo para seguir a gravidade. Não tomo atitudes, me contenho...
Sou esquizofrênico consciente, finjo que não me escuto e faço-me parecer normal
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