Quanto mais escasso fica o meu tempo, mais rápido passam os dias à minha frente. Rápidos como uma flecha. Secos como um golpe de navalha que vai me abrindo marcas por onde escorre o meu sangue ralo. E num piscar de olhos me vejo cercado por pesadelos de dores, de fracasso, de desamparo. Perdido entre as folhas do calendário que se amontoam ao chão. Entre as páginas de revistas relidas e jornais velhos amassados. Entre as chaves dos apartamentos já deixados. Entre as caixas das mudanças de endereço, de e-mails, de telefones, de amigos. Entre livros e gavetas repletas de papeis rabiscados. Entre as lembranças de uma brisa, de um gole, das ruas e lugares, de pessoas e das marcas que nunca me deixaram. Perdido entre mim e o mundo a minha volta, que parece girar em torno do meu eixo para manter-me sempre amarrado no mesmo lugar. Conto aqueles que já se foram, um a um, seguindo adiante em seu rumo e começo a busca desesperada pelo ponto exato do mapa em que perdi a direção correta, caindo nesse abismo. Deixando-me afundar em meus novos defeitos escondidos, esquecidos e recém redescobertos. Procuro erguer a cabeça e tudo o mais que pesa sobre meus ombros para tentar alcançar a superfície de minha alma degolada pela insegurança que me afunda. Buscando um mínimo de ar que me sustente de pé nessa luta interminável por novos dias e me ajude a atravessar o túnel escuro no qual emergi quando observei os meses passarem e deixei que o tempo me engolisse como uma onda em meio a tempestade, arrastando tudo de concreto que ainda me restava para longe. Tomando o chão onde eu não piso e o teto sob o qual não me abrigo, deixando-me só. No mesmo lugar de sempre. Com meus pensamentos desconexos e as mesmas idéias incompletas que ainda clamam por solução. Permaneço com este espírito que se debate por um movimento do corpo e suplica por uma reação. Rezando para que esses dias logo se vão. E que eu determine o fim dos problemas antes que o fim os termine por mim.
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