não tenho nenhuma opinião para emitir. faço agente passivo nesse contexto. o que você quiser para mim está bom. nunca vou entender todo o esforço e as horas que desperdiça de frente para esse espelho. olhando, olhando, provando, testando, vestindo, despindo, arrumando, desgostando, mudando e voltando sempre para os mesmos e simples modelos. tanto trabalho que se perde no meu olhar desatento. não, eu não sou desligado. notei a sua presença tão logo ela se fez sentir no recinto e desde então não deixo de olhar para cada detalhe de seu rosto. de admirar sua atitude, sua personalidade, sua meiguice, sua bondade, sua beleza, suas peculiaridades. talvez aluado, mas nada pertinente. se não percebo, por um lado, a tão bem cuidada maquiagem, o novo penteado, as novas roupas, os novos sapatos, noto, rapidamente, o entusiasmo que transparece em seu semblante a cada novidade. não vejo porque isso deva incomodá-la. um dia terá de aprender que a mim não importa o rótulo e a embalagem, mas apenas a qualidade do produto. e que culpa eu tenho de não ser fútil? não gosto do fútil. até aceito o supérfluo, mas o fútil jamais. gosto do simples, não do simplório. não só os metidos são chatos, os simplistas também o são. mas pior do que os metidos a besta são aqueles que se acham demais sem ser. como essa maioria machista ignorante que cria paradigmas de futilidades a serem seguidos cegamente. estúpido é o homem que não consegue perceber a real beleza de uma mulher a não ser por intermédio de sua produção. não acho necessário todo o dispêndio de energia no uso de pinturas no rosto, na pele ou nas unhas, nem no acúmulo e escolha de vestidos e sapatos e saltos e acessórios, para ao final lançar sobre mim o mesmo olhar maroto de sempre que é seu, até mesmo quando acorda. eu já disse que você nunca é tão linda quanto quando acorda com esses olhos inchados, o rosto amassado e aquele pijama velho amarrotado. a real figura de uma mulher só se percebe quando ela dorme. sem disfarces. sem produções... eu sei que você pergunta de forma retórica, esperando apenas uma resposta que amacie seus ouvidos, mas não a minha. eu já lhe disse que por mim tanto faz. é difícil de entender? eu sou assim. gosto de mulher ao natural. de rosto limpo e jeito simples. por mim tanto faz o vestido longo ou as horas no cabeleireiro. nem sequer vou notar diferença no brilho de seus olhos, que são sempre os mesmos. eu não prefiro roupa alguma, ou melhor, prefiro até nenhuma. descalça e descabelada melhor ainda. e sem pintura no rosto, de mascaras já me bastam as emocionais que ostentamos todos os dias. eu ainda procuro para mim uma mulher sem mascaras, ao menos comigo, com quem não precise usar as minhas. será tão difícil entender que é assim mesmo que eu sou? que é disso mesmo que eu vivo? do substancial, que nem sempre é palpável... mas, se faz tanta questão da minha opinião, tudo bem... eu acho que, melhor do que tudo, você fica muito bem com essa camiseta branca básica, uma calça jeans e aquele tênis vermelho. e sem maquiagem nenhuma, por favor, eu detesto gosto de batom.
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