"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

martes, noviembre 02, 2004

na teia da aranha
Endoscopia do anti-social

Entregues à efemeridade enquanto o substancialismo parece estar ‘fora de moda’
A sociedade moderna é formada, cada vez mais, por uma massa de indivíduos individualmente isolados em contextos individuais de elementos únicos. O ser um só, sozinho. Esse é o novo meio social em que todos se dispõem a viver. O seu próprio. As sociedades individuais que se relacionam intersocialmente, e não mais socialmente. É cada um na sua e por si. É o império do individualismo não relacionado. É a capitalização neo-liberal dos sentimentos e sonhos e planos e cotidianos. É o não somar para não dividir. É o estar só para ser dono de si. Eucentrismo forjado na covardia sentimental em que fomos embebidos. É essa a evolução natural a qual estamos sendo conduzidos? A qual estamos nos conduzindo? A doutrinação de idéias e conceitos e modelos e padrões. Estética, aparência e futilidades. Isso é tudo. A evolução tecnológica nos faz trabalhar cada vez menos com o corpo e, muitas vezes, menos com a mente também. Andamos mais de carro e menos a pé. Trabalhamos cada vez mais e descansamos cada vez menos. Menos sono, menos lazer, menos tempo para comer. Comemos fast-food cada vez mais e nos cuidamos cada vez menos. Mas como a sociedade é um organismo único, embora cada vez mais dividido em células individuais, ela cria suas próprias realimentações de controle. A doutrina da estética. Adolescentes anoréxicas e bulímicas e jovens lipoaspirados, malhados e anabolizados. É o social agindo sobre o indivíduo. Temos de nos encaixar nos padrões de grupo, mas queremos ser únicos e separados dele. Conflito de interesses? Por que as pessoas se esforçam tanto para serem aceitas nos padrões ao mesmo tempo em que se resguardam nos seus casulos para não se desfragmentarem em relações verdadeiras? É o medo. É a mediocridade das relações modernas. Porque é mais fácil abrir mão do que é fugaz. É mais fácil perder o que não é importante. Então vamos viver o efêmero para não correr o risco de sofrer pelo substancial. Vamos nos isolar para evitar problemas de relacionamentos. Vamos ocupar nosso espaço apenas conosco para mantermo-nos, assim, sempre donos de nós mesmos. Vamos ser únicos. Cada um na sua, cada um por si. Não somar alegrias para não ter de dividir as tristezas. Vamos ser superficiais para não enfrentar a difícil tarefa de conviver com a substância do outro. Mas eu não sei ser assim... Quando perdi o medo de me machucar, aprendi a amar. Foi aí então que eu percebi... que já não tinha mais medo de nada. A que sociedade será que eu pertenço?