Uma semana, ela disse. Ou mais, talvez. Uma semana já era demasiado exagero para se esperar, cada dia além disso já passa para o plano do absurdo. Já esperei demais, sempre. Já cansei. Esperar dois anos me parece um tempo razoável, mas uma semana e cada dia além dela já se torna uma tortura descabida. Meus nervos parecem querer me estraçalhar por dentro a cada segundo. Meus pêlos parecem querer se enlaçar pelas raízes. Meus olhos perdidos já não têm foco em mais nada que esteja a distâncias inferiores à do horizonte. Meus pés parecem querer correr, cada qual em uma direção distinta, para fugir da torturante jornada de expectativas, concentrando-se no fazer acontecer, embora meu corpo saiba não poder deixá-los ir. Inconformado, mudo de rota e de planos rumo a outros meios de cura. Paliativos, placebos, ilusões, passatempos. Esse caso tem se mostrado mais interessante do que parecera. Nós, na minha e na sua, minha vida sua vida, meus planos seus planos, meus prazeres e seus deveres, tantos. Um jogo que passa a estranhamente me interessar em demasia. Lances de dados viciados. Sem cobranças, sem esperas, sem fantasias. Num olhar, num respirar, num sufocar, num impulso, num hesitar... e o que poderia ter sido já era. Há sempre o momento certo para tudo o que deve ser. Há coisas que têm de acontecer e não se pode impedir, há coisas que se luta para acontecer e há coisas que se impede que aconteçam. E as regras vão sempre mudando. Como os caminhos do destino, maleável, volúvel, volátil. Segredos existem para serem desvendados, nunca revelados. São somente desabafos que não servem para serem entendidos, nem mesmo por mim. Reflexos de uma dificuldade em responder às expectativas que se criam sozinhas. Uma rejeição velada à idéia de assumir encargos que me cabem além dos que dizem respeito unicamente a mim, responsável por mim mesmo com tantas ressalvas e obrigado a aceitar mais culpas. Já cansado. Cansado de ter de medir as conseqüências de minhas decisões e meus atos na vida dos outros. Por vezes percebendo não ser tão ruim ser sozinho absoluto. Pelo menos quando ando de saco cheio de não ser livre por inteiro. É olhar pra trás e pensar em como seguir em frente, ou seguir sem pensar. Começar do meu próprio início, para não ter de continuar nada. Quero apenas ser dono de mim mesmo e de mais ninguém...
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