"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

jueves, diciembre 27, 2007

três pontos
Perfeita

Se eu fosse um homem de verdade, e não esse híbrido de pária e quasímodo humano que sou, iria até lá, a seguraria pela mão e diria, de uma vez, tudo aquilo que tenho vontade. Desde o primeiro dia em que a vi. Desde a primeira vez em que ela me tocou. Desde que me olhou com aqueles lindos olhos grandes e me fez desabar por completo do alto de mim mesmo. Com seu jeito meigo de falar, seus gestos delicados e, por vezes, desajeitados. Com aquela gargalhada gostosa que me dá uma vontade de sorrir que aperta o coração. Uma beleza mista, tão sexy quanto angelical, com um leve toque de selvageria e desleixo. E aquele olhar firme, petrificante, de quem sabe aonde pode ir e também onde quer chegar. Capaz de me esquentar e congelar ao mesmo tempo. E me reverter a um estado pré-adolescente, insípido e covarde. Inseguro, imaturo, imberbe, insuficiente, inútil. Ela podia ser chata. Besta, arrogante, metida, fresca. Mas não: é a criatura mais doce que já pisou sobre a crosta terrestre, pelo menos nos últimos 200 anos. Um tanto atrevida, é verdade. O que só a torna ainda mais encantadora. A mulher mais bela que já vi na minha vida. E olha que já estudei em colégio de padre e meu pai já foi assinante da playboy. Um metro e sessenta e cinco da mais pura perfeição, na forma da garota mais incrível que eu, há muito, já julgava inexistente. A boca que parece desenhada milimetricamente pela mão de Deus. Um corpo que parece ter sido esculpido do próprio barro divino do Olímpo. E os seios com as exatas dimensões que só se viu um dia no projeto original da própria Eva. Descrever assim parece tolo (mas quem não ficaria bobo diante de tal vislumbre?), mas esse é o grande fascínio das palavras. Elas codificam as imagens, emoções e sentimentos e transmitem em forma de texto. É como uma criptografia de traduções imprecisas. Com algoritmos que podem ser decodificados por qualquer um, mediante a concepção do receptáculo. Enfim, por mais que eu tente descrever, você não conseguiria visualizar a imagem que eu vi. Mas certamente pode entender, a partir da sua própria imagem, a perfeição daquilo que eu vi. E pode supor a sensação que me percorreu a espinha quando me viu, escondido ali naquele canto isolado do bar. Fazendo-me tremer como um garoto assustado quando caminhou em minha direção, com aquele jeito de olhar, um sorriso de menina levada e a desenvoltura de uma deusa. Mulher feita da mais pura essência feminina. Sexy, inteligente, desprotegida e devastadora. Chegou até perto da mesa e falou, com aquela voz que deslizava pelos meus ouvidos como fina seda, enquanto acariciava meus cabelos com seu toque de veludo quente que despia meu pescoço:

– acho que te achei escondido aí nesse canto.
– engraçado. eu tinha certeza de que era eu quem estava te procurando. bem aqui. a vida toda!
– nossa!! eu vim até aqui disposta a te dar uma cantada, mas acho que você me venceu nessa.
– isso não é uma disputa.
– então por que você ainda não me deu um beijo?
– estava esperando apenas você pedir.
– eu não pedi!
– então tenho que pedir eu mesmo.
– só vem aqui e pega o que é teu!

Perfeita... o que mais eu poderia dizer?