"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

viernes, mayo 11, 2007

divagar impreciso
Cem dias

parece cocaína, mas é só tristeza...
as constantes tentativas de manter esse sorriso amarelo-pálido na minha face têm se revelado extremamente desgastantes e cada vez mais inúteis. o peso de meus pensamentos e da minha tristeza parece crescer a cada dia que passo vendo as folhas do calendário caindo e meu tempo indo embora como a areia de uma ampulheta lacrada que não pode ser reposta. o trafegar de meus instintos, até então mantidos sob controle absoluto, padece de ansiedade e medo. gerando calafrios cada vez mais intensos na minha espinha e curvando-a em direção à gravidade. as maquiagens emocionais, os disfarces casuais e as máscaras que mantenho na face parecem não surtir mais efeito e minhas dores passam a eclodir de meus olhos como lava vulcânica. queimando todos os aparelhos internos de meu corpo, mas fazendo-me sentir, apenas, cada vez mais frio. perpetuando esse meu estado cíclico de humores dispares, eu chego a um vale. profundo, seco, gelado e escuro. e procuro, mas não encontro mais forças em meus membros para tornar a subir. o fundo do poço parece ter se instalado de forma permanente em minha alma. latejando com tanta força que minha natureza transparente não consegue mais se esconder entre minhas vestes e salta de meu peito. junto com essa dor que expele meu coração para fora do tórax quando ele se abre como uma flor e deixa cair pétala por pétala de minha sanidade ao relento das calçadas de mármore que rodeiam a estrada inóspita da solidão. a confusão se dissipa de minha mente, deixando apenas o vago. uma inércia imperativa que me suga por completo. deixando apenas uma carcaça vazia de semblante apático e atitude conformista. um negativo completo de tudo aquilo que sou. um toque fúnebre com sabor de desistência, de impotência. um olhar distante que persegue o horizonte. uma inexpressão estampada na face. um desejo incômodo de que tudo fosse diferente, de que eu fosse diferente. talvez outra pessoa. sensação de cansaço e vontade de desaparecer. a lei de Murphy, quando resolve atacar, vem de todos os lados e não te deixa respirar. e parece ter o poder de amplificar as tristezas mais particulares e sugar todas as crenças, as vontades e a confiança, até te deixar sem forças para reagir. sou eu, no olho de um furação feroz e sem espaço para sair. sem rota para fugir. tentando, inutilmente, me esconder do mundo a minha volta, dentro de mim mesmo. para quando sair do casulo, poder ter de volta as verdades que minha vida perdeu.