"you don't choose the things you believe in, they choose you."

Minority Report (2002)

viernes, agosto 04, 2006

divagar impreciso
Caleidoscópio

ornamentando a sala tal qual uma esfinge, mantenho-me alheio ao rugir do tempo e me fecho em casulo como se buscasse transpor barreiras que me construo por dentro. como se pudesse escapar das perguntas, acusações e cobranças. das pessoas que me param na rua pedindo explicações para o girar do planeta e o nascer do sol. obliterado da existência, trancado numa bolha de vidro, oscilo entre as horas – finjo que trabalho, me camuflo entre as paredes e ninguém me vê; oscilo entre os dias – finjo que aprendo, me calo e ninguém me ouve gritar; oscilo entre as noites – finjo que durmo, me escondo. pensando, buscando, tentando, digerindo, esperando... espero, desespero, grito, choro, entorpeço, adormeço e acordo para continuar esperandoesperandoesperando... pelos outros, pelas coisas, pelas horas, pelos dias, pelo dia. simulo que entendo e desaprendo. desconstruo meus eus. e as certezas. de conflitos em mesas de bar a debates telefônicos aquecidos a vela. desfaço a confiança das pessoas na clareza de entender que eu não sou apenas mais um inseto que se debate a frente de uma janela de vidro que se mantém fechada. prendendo meus apelos e aprisionando essa esperança de um futuro livre. pseudo-liberto. entre as madrugadas compreendo que cada liberdade que se almeja, lhe custa outra que se perde. que cada vida e liberdade que se escolhe viver implica também na escolha de uma prisão. e disfarço não perceber o quanto sou cada vez menos dono dos meus dias e cada vez mais escravo das minhas horas. tanto mais quanto busco o controle de mim mesmo, mais me afogo e decepciono. me debato e me percebo prisioneiro de uma vida que pára estagnada, estática, enquanto o tempo corre. como uma ampulheta entupida em que a areia não escorre (a não ser por entre meus dedos) enquanto os ponteiros se deslizam ao sabor do tempo. o mundo gira lá fora, se move, e as luzes piscam ininterruptamente frente às minhas córneas. eu apenas paro, e espero...