Não olhe para mim com essa cara de peixe morto como que querendo induzir-me pena de sua vida caricata e sem motivos. Você já me tocou em todos os sentimentos a que lhe dei direito e continua querendo mais. Vem pedir-me por mais do que a sua reles personalidade de borracha pode suportar sem começar a perder a forma. Sem começar a ceder. Não quero ouvir mais uma palavra de seus conselhos sem fundamentos, forjados em sua pseudo-experiência e visão de mundo que na verdade você sugou de mim na tentativa de preencher esse enorme vazio que lhe habita por inteiro e essa carcaça frágil e quebradiça que está agora prestes a se desmanchar diante das verdades que lhe digo. Sermões que reverberam na sua cabeça oca, recheada de teorias depositadas por mim, vindo à tona desde o âmago da alma que você nunca teve como se expelidas do seu estomago em meio a vômitos que me devolvem a essência da qual você se alimentou por tanto tempo e que fizeram de você essa criatura de verdades disformes bem aqui na minha frente. Um reflexo mal-formado e sem vida de mim mesmo. Moldado e manipulado à minha vontade para parecer aquilo que não é. Um clone com personalidade escravizada e inteiramente dependente de emoções que não lhe pertencem. Um ser desprezível, cuja existência sempre esteve atrelada ao consumo exagerado de doses e overdoses dos sentimentos que lhe permiti beber até que se tornassem um vício de vital importância a sua sobrevivência. A sua existência se resume a isso. Uma opaca projeção de meus sonhos que resvalam num plano de fundo negro e tomam forma de uma silhueta cinza batizada com o seu nome. Uma criação de minha mente para dar vazão a desejos caóticos escondidos em uma alma tímida e atormentada. Uma válvula. Personagem que se manifesta sob o meu julgo para permitir o resguardo de minha personalidade dividida. Não exija coisa alguma de mim, pois não terá retorno qualquer a não ser aquele que me convir. Não lhe devo nada que não me seja da vontade. Pois, por trás dessa imagem translúcida refletida numa vidraça de onde ao fundo me observa e condena, você não passa disso: uma sombra sem rosto que me sorveu tudo o que pôde, se apossando de minhas verdades para dar forma a suas palavras sem voz própria. Eu assumo o controle agora.
<< Inicio